Vamos começar esclarecendo que neste post vamos referir-nos a todo momento à electroestimulação localizada. O tema da estimulação global merece ser tratado amplamente em um capítulo à parte.
Da mesma forma, vamos contextualizar o tema fazendo uma introdução geral sobre a electroestimulação, já que sob este nome agrupam-se várias técnicas que, embora funcionem sob o mesmo princípio, mantêm diferenças entre si.
Entender essas diferenças vai permitir-te escolher o dispositivo que te ofereça o tratamento adequado às necessidades que queres satisfazer.
O que é a electroestimulação?
É uma técnica na qual se utiliza um aparelho que emite impulsos elétricos para provocar contrações musculares. Dependendo do tratamento ou técnica aplicada, as contrações musculares serão de maior ou menor intensidade.
Atualmente, é utilizada em três campos diferentes:
- Estético: Como tratamento adelgaçante, embora se não for complementado com exercício físico, os resultados são questionáveis.
- Médico: Esta técnica é usada com fins terapêuticos com o objetivo de tratar a dor e a recuperação de diferentes patologias do sistema músculo-esquelético. Para esta técnica utiliza-se a corrente TENS, que basicamente consiste em estimular através de impulsos elétricos uma zona danificada com o objetivo de que as células não possam transmitir a mensagem de dor ao cérebro.
- Desportivo: A electroestimulação EMS faz com que os músculos trabalhem de forma provocada ao receberem curtos impulsos elétricos que estimulam os nervos de tal forma que reproduzem o esforço muscular tal como seria emitido pelo cérebro. O seu uso, juntamente com as pistolas de massagem muscular, são os métodos mais utilizados para a recuperação muscular.
- Recuperação pós-parto: Após o parto, a musculatura abdominal fica enfraquecida e os eletroestimuladores ajudam a recuperar o tônus muscular. Se o parto for natural, é recomendável esperar pelo menos 6 semanas para usá-lo e, se for por cesariana, cerca de 3 meses.
Embora existam muitos modelos de eletroestimuladores profissionais, atualmente é possível encontrar inúmeros modelos e marcas para uso particular. A maioria deles costuma combinar ambas as correntes (TENS e EMS) e nos permite obter os benefícios terapêuticos, desportivos e estéticos em um único aparelho.
Agora que já conhecemos de forma geral em que consiste esta técnica, vamos nos concentrar e aprofundar na eletroestimulação com fins desportivos, ou seja, eletroestimulação EMS.
O que é a eletroestimulação EMS usada nos eletroestimuladores abdominais?
Já se foi o tempo em que a eletroestimulação era usada quase exclusivamente por atletas de elite. Hoje em dia, esta técnica está disponível para todos os tipos de usuários e se tornou um importante aliado na preparação e recuperação de desportistas, sejam eles amadores ou profissionais.
Mas vejamos exatamente em que consiste!
Cada vez que realizamos um movimento, o cérebro emite um sinal ao músculo através do sistema nervoso para que este se contraia e possamos realizar o movimento desejado. Este sinal não é outra coisa senão um impulso elétrico que se desloca pelo nosso sistema nervoso.
A eletroestimulação muscular (EMS) consiste em provocar contracções musculares muito semelhantes às que o cérebro emite de forma natural. Com este propósito, utiliza-se um gerador de corrente que emite impulsos elétricos a uma determinada frequência e intensidade, capazes de alcançar a zona do músculo com maior volume (ventre muscular), resultando na resposta muscular.
O que diz a ciência sobre a eletroestimulação?
Existem numerosos estudos científicos que corroboram os benefícios da eletroestimulação TENS para o controlo da dor; de facto, esta técnica tem sido usada há décadas pela comunidade médica como terapia não invasiva no tratamento de diferentes patologias do sistema muscular e esquelético.
O tema torna-se um tanto mais polémico quando se trata de demonstrar os benefícios da eletroestimulação EMS, pois a sua aplicação no âmbito desportivo é relativamente recente e ainda não existem evidências científicas suficientes que concluam que o uso desta técnica seja eficaz para provocar um efeito significativo sobre os músculos.
No entanto, alguns estudos concluem que é possível que o uso continuado desta técnica esteja relacionado com um ligeiro aumento da força, pois ao conseguir que todas as fibras de um músculo se contraiam ao mesmo tempo, consegue-se ativar quase 30% mais fibras do que numa contração voluntária.
Por outro lado, demonstrou-se que a recuperação ativa (exercício leve como caminhar) é mais eficaz do que o descanso para a recuperação após um treino. O EMS não aumenta o fluxo sanguíneo tal como o exercício leve; por isso, a ciência também evidencia que a eletroestimulação pode ser muito útil na recuperação muscular.
A conclusão final é que, perante a falta de estudos que confirmem a eficácia da eletroestimulação no âmbito desportivo, o EMS pode tornar-se uma ferramenta, desde que combinada com eletroestimulador e exercício, que ajude a aumentar ligeiramente a força ou a manter a forma física. No entanto, segundo outros estudos, é pouco provável que seja eficaz para ganhar músculo rapidamente ou para a recuperação do dano muscular após um treino.
Eletroestimuladores abdominais combinados com exercício físico
Já te adiantamos que a eletroestimulação é eficaz desde que combinada com exercício físico.
Não esperes grandes resultados se levas um estilo de vida sedentário nem esperes que teus músculos se desenvolvam sem trabalhá-los. Não vai acontecer!
Um eletroestimulador deve ser considerado como uma ferramenta para alcançar os objetivos marcados, não é o remédio milagroso que vai te colocar em forma apenas por usá-lo. Para obter bons resultados é necessário combinar eletroestimulação e exercício. Com essa união não só se consegue estimular um maior número de fibras, como também se alcança as fibras mais profundas do músculo.
Para que possas entender os efeitos que esta combinação produz, deves saber que existem duas fases diferenciadas em todo exercício de musculação, a fase excêntrica e a concêntrica. Explico-te brevemente!
- Fase excêntrica ou negativa: É a fase em que o músculo se alonga. Embora nesta fase do exercício nosso organismo não utilize um grande número de fibras, se produz uma grande pressão sobre as mesmas que provoca dano muscular, motivo pelo qual é a fase mais efetiva para ganhar massa muscular. Quando se aplica a eletroestimulação em cada fase excêntrica do exercício, o músculo trabalha de forma muito mais intensa o que reverte em um significativo aumento da força muscular.
- Fase concêntrica ou positiva: Nesta fase o músculo contrai-se e seus pontos de inserção se aproximam, provocando um abultamento que se nota a simples vista. Os movimentos concêntricos causam um menor dano muscular que os excêntricos, por isso não são tão eficazes para conseguir seu aumento, é necessário realizar o dobro destes movimentos para conseguir os mesmos resultados. Ao aplicar o estímulo elétrico na fase concêntrica do exercício consegue-se recrutar um maior número de fibras musculares, por isso consegue-se ganhar mais massa muscular do que quando se trabalha unicamente com o exercício físico.
Da mesma forma, é preciso entender que a congestão muscular é um processo fundamental para o músculo, já que, durante o exercício, produz-se uma redistribuição de sangue no organismo para favorecer a chegada de oxigênio e manter a energia nos músculos que estão sendo trabalhados. A eletroestimulação usada nos períodos de descanso consegue aumentar a congestão, isto é, produz-se um aumento do fluxo de sangue que chega ao músculo, facilitando o processo de recuperação e contribuindo para aumentar a resistência à fadiga muscular.
Eletroestimuladores abdominais na recuperação de lesões
As técnicas de eletroterapia são empregadas na medicina desportiva tanto para ajudar na prevenção como na recuperação de lesões.
O seu uso tem como finalidade tentar melhorar ou reparar tecidos neuromusculares que foram danificados por inflamações, degenerações, traumatismos ou degenerações.
Embora a eletroestimulação seja uma boa opção a ter em conta pelos seus benefícios, também é necessário entender que requerem certos conhecimentos para um bom uso já que podem ter contraindicações e efeitos secundários. Por isso, como em qualquer outro tema relacionado com a saúde, antes da sua aplicação, sempre é recomendável consultar com os profissionais de saúde.
Esclarecido este ponto, quando falamos de lesões desportivas, a terapia mais eficaz é o repouso. Explico, de nada serve o uso de um eletroestimulador para a recuperação de uma zona danificada se horas depois vais continuar a sobrecarregá-la com exercício contínuo.
Com esta ideia clara, é verdade que as técnicas de eletroterapia podem acelerar o processo de recuperação de uma lesão muscular, já que, não só contribui para tonificar e devolver a força ao músculo, mas também permite que a reabilitação seja realizada em condições ótimas ao ter um efeito calmante da dor.
Quantas sessões com eletrodos abdominais são necessárias para ver resultados?
Apesar de alguns fabricantes indicarem que se veem resultados de 2 a 6 semanas, este tempo depende do programa utilizado, do modelo e do nível de treino entre outros fatores, por isso não se pode estabelecer um período comum para todos.
Benefícios e contraindicações dos eletroestimuladores abdominais
Antes de começar a usar esta terapia é interessante conhecer os seus benefícios, mas o realmente importante é saber se as tuas condições de saúde te permitem usar esta técnica. Então, vamos ver que benefícios nos traz e quando está contraindicada.
Benefícios dos eletroestimuladores abdominais
É indiscutível que esta técnica traz numerosos benefícios quando usada de forma combinada com o exercício e aos níveis de intensidade apropriados:
✅ Permite conseguir uma maior ativação muscular: O facto de poder escolher entre diferentes frequências permite ativar um tipo ou outro de fibras musculares:
- Frequências muito baixas (-10 Hz): estimulam o fluxo sanguíneo nos músculos o que produz um efeito descontraturante e relaxante.
- Frequências baixas (10-35 Hz): ativam as fibras do tipo I que são as que costumam trabalhar durante exercícios de tipo aeróbico ou desportos de resistência.
- Frequências intermédias (35- 50 Hz): trabalha as fibras do tipo II ou mistas. Estas fibras são as que intervêm quando nos encontramos no ponto intermédio entre um esforço aeróbico e um anaeróbico.
- Frequências elevadas (+50 Hz): ativam as fibras II b, que são as que intervêm nos esforços explosivos e de curta duração.
✅ Trabalha o músculo de forma localizada: Os eletrodos permitem ativar de forma localizada o músculo que queres trabalhar, além disso, podes fazê-lo à intensidade adequada. ✅ Evita o risco de lesão: Minimiza o risco de lesões já que ao incorporar a eletroestimulação na rotina de exercícios pode substituir certas práticas que podem resultar agressivas para os ossos, tendões e ligamentos. ✅ Atrasa a fadiga muscular: Ao provocar um aumento do fluxo sanguíneo que chega ao músculo com que se está a trabalhar, este recebe mais quantidade de oxigénio e, consequentemente, consegue manter um maior nível de energia. ✅ Poupança de tempo: Pode ser usado em qualquer momento e lugar o que permite trabalhar com este método num horário flexível e sem ter que ir a um centro desportivo.
Contraindicações dos eletroestimuladores abdominais
Apesar dos seus benefícios, o uso de um eletroestimulador tem contraindicações, especialmente em pessoas que sofrem de algumas das seguintes patologias:
⛔ Episódios epiléticos ⛔ Marcapasso cardíaco ⛔ Problemas circulatórios ⛔ Hérnia abdominal ou inguinal ⛔ Problemas neurológicos ⛔ Irritação de pele, queimaduras ou feridas ⛔ Doenças metabólicas como diabetes, hipertensão e obesidade ⛔ Níveis altos de ácido úrico ⛔ Patologias inflamatórias ⛔ Mulheres em estado de gestação
